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Haroldo
de Campos
(pur troppo non allegro)
Sobre o neoliberalismo terceiro-mundista
di Haroldo de
Campos (1929-)
(purtroppo non allegro)
Sul neoliberalismo terzo-mondista
trad di Giuseppe
Butera
laissez-faire laissez-passer
1.
o neoliberal
neolibera:
de tanto neoliberar
o neoliberal
neolibera-se de neoliberar
tudo aquilo que não seja neo
(leo)
libérrimo:
o livre quinhão de leão
neolibera a corvéia da ovelha
2.
il neoliberal
neodelibera
o que neoliberar
para os não-neoliberados:
o labéu?
o libelo?
a libré do lacaio?
a argola do galé?
o ventre-livre?
a morte-livre?
a bóia-rala?
o prato raso?
a comunhão do atraso?
a ex-comunhão dos ex-clusos?
o amanhã sem fé?
o café requentado?
a queda em parafuso?
o pé de chinelo?
o pé no chão?
o bicho de pé?
a ração da ralé?
3.
no céu neon
do neoliberal
anjos-yuppies
bochechas cor-de-bife
privatizam
a rosácea do paraíso
de dante
enquanto lancham
fast-food
e super
(visionários) visam
com olho magnânimo
as bandas
(flutuantes)
do câmbio.
enquanto o não
-neoliberado
come pão
com salame
(quando come)
ele dorme
sonhando
com torneiras de ouro
e a hidrobanheira cor
de âmbar
de sua neo-
mansão em miami
4.
o centro e a direita
(des)conversam
sobre o social
(questão de polícia):
o desemprego é um mal
conjuntural
(conjetural)
pois no céu da estatís-
tica o futuro
se decide pela lei
dos grandes números
5.
o neoliberal
sonha um mundo higiênico:
um ecúmeno de econômos
de economistas e atuérios
de jogadores na bolsa
de gerentes
de supermercados
de capitães de intústria
e latifundiários
de banqueiros
-banquiplenos
(que importa?
desde que circule
auto-regulante
o necessário
plusvalioso
numerário)
um mundo executivo
de mega-empresários
duros e puros
mós sem dó
mais atentos ao lucro
que ao salário
solitários (no câncer)
antes que solidários:
um mundo onde deus
não jogue dados
e onde tudo dure para sempre
e sempremente nada mude
um confortável
estável
confiável
mundo contábil
6.
(a
contramundo o
mundo-não
-mundo-cão-
dos deserdados:
o anti-higiênico
gueto dos
sem-saída
dos excluídos pelo
deus-sistema
cana esmagada
pela moenda
pela roda dentada
dos enjeitados:
um mundo-pêsames
de pequenos
cidadão-menos
de gente-gado
de civis
subservis
de povo-ônus
que mnão tem lugar marcado
no campo do possível
da economia de mercado
(onde mercúrio serve ao deus
mamonas)
7.
o neoliberal
sonha um admirável
mundo fixo
de argentários e multinacionais
terratenentes terrapotentes
coronéis políticos
milenaristas (cooptados) do perpétuo
status quo:
um mundo privé
palácios de cristal
à prova de balas:
bunker blau
durando para sempre - festa estática
(ainda que se sustente sobre fictas
palafitas
e estas sobre uma lata
de lixo)
Haroldo de Campos
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laissez-faire laissez-passer
1.
il neoliberale
neolibera:
da tanto neoliberare
il neoliberale
neoliberasi dal neoliberare
tutto ciò che non sia neo (leo)
liberissimo:
la libera parte del leone
neolibera la corvè della pecora
2.
il neoliberale
neodelibera
quel che si deve neoliberare:
per i non-neoliberati:
la taccia?
il libello?
la livrea del lacchè?
l'anello del galeotto?
il ventre-libero?
la morte-libera?
il rancio-rado?
il piatto piano?
la comunione del sottosviluppo?
la scomunicazione degli emarginati?
il domani senza fede?
il caffè scaldato?
la caduta a spirale?
il poveraccio?
il piede scalzo?
il verme del piede?
la razione della plebe?
3.
nel cielo neon
del neoliberale
angeli-yuppies
guance color fettina
privatizzano
la rosacea del paradiso
di dante
mentre fanno lo spuntino
fast-food
e super
(visionari) visionano
con occhi magnanimi
le bande
fluttuanti
del cambio
mentre il non
-neoliberato
mangia pane
e salame
(quando mangia)
egli dorme
sognando
con rubinetti d'oro
e l'idrovasca color
ambra
della sua neo-
villa a miami
4.
il centro e la destra
(dis)conversano
sul sociale
(un caso da polizia):
la disoccupazione è un male
congiunturale
(congetturale)
perché nel cielo della stati-
stica il futuro
si decide com la legge
dei grandi numeri
5.
il neoliberale
sogna un mondo igienico:
un ecumeno d'economi
d'economisti e attuariali
di giocatori della borsa
di manager
di supermercati
di capitani dell'industria
e latifondisti
di banchieri
-banchipieni
(che importa?
con tanto che circoli
auto-regolatore
il necessario
plusvaloroso
numerario)
un mondo manageriale
di mega-imprenditori
duri e puri
moli spietate
più attenti al lucro
che al salario
solitari (nel cancro)
piuttosto che solidali:
un mondo dove dio
non giuochi ai dadi
e dove tutto duri per sempre
e eternamente niente muti
un confortevole
stabile
degno di fiducia
mondo contabile
6.
(a
contromondo il
mondo-non
-mondo-cane
dei diseredati:
l'anti-igienico
ghetto dei
senza-scappatoia
degli esclusi dal
dio-sistema
canna stritolata
dal mulino
dalla ruota dentata
degli esclusi:
il mondo-condoglianze
di piccoli
cittadini-meno
di gente-armento
di civili
sottoservili
di popolo-onere
che non ha posto assegnato
nel campo del possibile
dell'economia di mercato
(dove mercurio serve al dio mammona)
7.
il neoliberale
sogna un ammirevole
mondo fisso
d'argentari e multinazionali
terratenenti terrapotenti
colonnelli politici
millenaristi (cooptati) del perpetuo
statu quo:
un mondo privé
palazzi di cristallo
a prova di proiettile:
bunker blau
che duri sempre - festa estatica
(ancorché si sostenti su confitte
palafitte
e queste su di una latta
della spazzatura)
Haroldo de Campos
Trad. Giuseppe Butera
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